Já passou, mas deixamos aqui a Mensagem do Dia Nacional de Teatro de Amadores, dia 21 de Março, escrita pelo grande Norberto Ávila.
Num país como este nosso Portugal, e neste nosso tempo, onde e
quando o Teatro Profissional abrange e serve muito desigualmente o
diverso território, sendo cada vez mais escassas as Companhias
sobreviventes em muitas capitais de Distrito, fora dos grandes centros
urbanos – como é consolativo verificar que o Teatro Amador, com tantas
ou mais dificuldades ainda nos recursos de funcionalidade, vai
briosamente cumprindo a sua função sociocultural: afinando
sensibilidades, despertando vocações artísticas, agitando marasmos de
comodismo egoísta, abrindo fronteiras de consciência política e renovado
humanismo.
Por certo nunca será demasiado insistir neste
ponto: o exercício amador da Arte Teatral é amplamente salutar. E nunca
ouvimos falar de empresários ou diretores escolares que se tenham
arrependido de patrocinar qualquer grupo dramático no respetivo âmbito
laboral ou de ensino. Porque sempre os amadores de teatro se
evidenciarão, positivamente, no seu profissional trabalho quotidiano,
tal como, nas mesmas circunstâncias, sempre se hão de salientar nas
aulas os alunos universitários, mas até os de escolas básicas ou
secundárias.
Se o Teatro Profissional atinge por vezes
níveis admiráveis de qualidade artística (devidos naturalmente à
aprendizagem regular e institucional), não deixa o Teatro Amador de
surpreender-nos de quando em quando, com o desempenho de um intérprete, a
destreza duma encenação, a ousadia de um cenário – decididamente
superando a tradicional insuficiência de meios. Mesmo tendo em
consideração a justa remuneração devida aos profissionais (que permite a
sua subsistência), não creio haver grande vantagem em demarcar,
insistir demasiado na verdadeira vocação do profissional e na generosa
devoção do amador. Porque um e outro servem a sua Arte de eleição
consoante as suas disponibilidades de tempo. E como é impressionante
saber que alguém, depois de umas tantas horas de trabalho, privando-se
do repouso e do convívio familiar, ainda tem ânimo de se entregar a
ensaios ou representações teatrais!
No campo específico
do Teatro, mais que desejável é a solidariedade entre profissionais e
amadores. Participem os primeiros, sempre que possível, em ateliês de
formação dos segundos, que, por sua vez, lhes poderão fornecer
intérpretes profissionalizantes e ajudar à habituação, à fidelidade de
um público.
Por outro lado, há que lembrar à Secretaria de
Estado da Cultura e a algumas Câmaras Municipais mais renitentes que o
Teatro – profissional ou amador – é mesmo uma criatividade cultural
prestigiante e subsidiável. Mais que certos fogos de artifício que por
todo esse País deflagram num esplendor e logo desaparecem. (Metaforicamente falando, claro).
NORBERTO ÁVILA
Dramaturgo